Psicologicamente, o homem que cultiva a autopiedade desenvolve
tormentos desnecessários que o deprimem na razão direta em que a eles se
entrega.
Reflexões sobre dificuldades pessoais constituem fenômeno auxiliar para
ações dignificadoras, facultando a identificação dos recursos disponíveis, bem
como avaliação das atitudes que redundaram em insucesso ou desequilíbrio, a
fim de as evitar no futuro ou corrigi-las quanto antes.
Toda aprendizagem assenta-se nos critérios do erro e do acerto,
selecionando as experiências consideradas saudáveis, benéficas, que se fixam
pela natural repetição.
Desse modo, os insucessos são patamares que propiciam avanços para
que se alcancem degraus mais elevados.
Quando, porém, o indivíduo elege a posição de vítima da vida, assumindo
a lamentável condição de infelicidade, encontra-se a um passo de perturbações
emocionais graves, logo derrapando em psicopatologias devastadoras.
A mente, conforme seja acionada pela vontade, torna-se cárcere sombrio
ou asas de libertação, e ninguém se lhe exime à influência.
Conduzida pelos escuros corredores da lamentação, desatrela
condicionamentos que aprisionam o ser demoradamente.
Por isso mesmo, o cultivo da autocompaixão, mediante a insistente
reclamação em torno dos acontecimentos da vida, demonstrando insatisfação
sistemática, transforma-se em mecanismo masoquista de perturbadora
presença no psiquismo. A pseudo-aflição mantida converte-se em motivo de
alegria, realizando um mecanismo de valorização pessoal, cujo desvio
comportamental plenifica o ego.
Todo aquele que se faculta a autocompaixão neurótica é portador de
insegurança e de complexo de inferioridade, que disfarça, recorrendo,
inconscientemente, às transferências da piedade por si mesmo, sem qualquer
respeito pelas demais pessoas. Desenvolve os sentimentos de indiferença
pelos problemas dos outros, fechando-se no círculo diminuto da personalidade
mórbida.
No seu atormentado ponto de vista, somente a sua é uma situação
dolorosa, digna de apoio e solidariedade. E, quando essas expressões de
socorro lhe são dirigidas, reage, recusando-as, a fim de permanecer na postura
de infelicidade que o torna feliz.
Aquele que se entrega à autocompaixão nunca se satisfaz com o que tem,
com o que é, com os valores de que dispõe e pode movimentar. Não raro,
encontra-se mais bem aquinhoado do que a maioria das pessoas no seu grupo
social; no entanto, reclama e convence-se da desdita que imagina,
encarcerando-se no sofrimento e exteriorizando mal-estar à volta, com que
contamina as pessoas que o cercam ou que se lhe acercam.
Os grandes vitoriosos do mundo lutaram com tenacidade para romper os
limites, os problemas, as enfermidades, os desafios. Não nasceram fortes; tornaram-se vigorosos no fragor das batalhas travadas. Não se detiveram na
lamentação, porque investiram na ação todo o tempo disponível.
Milton, o poeta cego, prosseguiu escrevendo excelentes poemas, ao invés
de lamentar-se; Beethoven continuou compondo, e com mais beleza, após a surdez total; Chopin, tuberculoso, deu seguimento às músicas ricas de ternura,
entre crises de hemoptises, e Mozart, na miséria, sofrendo competições
ultrizes, traduziu para os ouvidos humanos as belas melodias que lhe vibravam
na alma…
Epícteto, escravo e doente, filosofava, estóico; Demóstenes, gago,
recorreu a seixos da praia, colocando-os sobre a língua, para corrigir a dicção;
Steinmetz, aleijado, contribuiu para o engrandecimento da Quimica…
Franklin D. Roosevelt, vitimado pela poliomielite, tornou-se presidente da
América do Norte e colaborou grandemente para a paz mundial durante a Segunda Guerra; Helen Keller, cega, surda e muda, comoveu o mundo com a sua
coragem, cultura, e amor a Deus, ao próximo, à vida e a si própria…
A galeria é expressiva e iluminada pelo gênio e pela coragem desses
homens e mulheres extraordinários.
Quando se mantém a autocompaixão, extermina-se o amor, não se
amando, nem tampouco a ninguém.
O homem tem o dever de aprofundar meditações em torno das aflições e
dos seus problemas, a fim de os superar.
A desenvolvimento saudável do ser psicológico impele-o à confiança e o
induz à atividade para a aquisição do sentido da vida, da sua finalidade.
Quem de si se compadece, recusa-se a crescer e não luta, estagiando na
amargura com a qual se compraz.
Fator de desintegração da personalidade, a auto-compaixão deve ser
rechaçada sempre e sem qualquer consideração, cedendo espaço mental para
os tentames que levam à vitória, à saúde emocional e à harmonia íntima.
Fonte: “Livro O Ser Consciente” – Divaldo Franco/ Joanna de Ângelis
Viver uma Resposta